Manuel Cabanas

Vila Nova de Cacela.

O Tomé percorre as ruas em busca de memórias de infância. Eu acompanho-o, não conheço a terra dos seus avós. Lugares como “Beco do Buraco” ou “Fonte Santa” são-me totalmente desconhecidos. A vila é pouco mais do que uma aldeia e aquilo a que o Tomé chama a “Avenida” dá-me vontade de rir por ser tão pequena. Laranjeiras de um lado e do outro. Cheira a Algarve.

A “Avenida” desemboca num largo quase vazio. O Tomé aponta para um busto de uma dignidade feroz que domina o pequeno largo, como um guerreiro a defender as suas hostes invisíveis.

“O meu primo Manuel Cabanas.” – explica, mas os meus olhos já estão lá atrás, na nuca, a apalpar o bronze.

“Bossy”. A assinatura de Diamantina Negrão.

Lembrei-me que alguém me tinha falado da amizade de Diamantina com o também artista Manuel Cabanas. Ambos viveram no Barreiro, ambos eram algarvios, ambos partilhavam as mesmas ideias políticas. No entanto, eu estava longe de imaginar que iria encontrar uma escultura assinada por “Bossy” em Vila Nova de Cacela. Perto das laranjeiras da pequena “Avenida”.

De repente, o largo tornara-se grande. À minha frente havia dois artistas, duas personalidades marcantes: o esculpido e a escultora. O bronze unia-os num segredo antigo. Era como se uma voz me dissesse, num sussurro: “Há palavras agarradas ao bronze. Falam de liberdade e de outras coisas. Mas a liberdade é a palavra mais perigosa.”