Mamy

"A Mamy deixou a sua marca no tempo e no lugar onde viveu, e em todos aqueles cuja existência ela tocou. Alguns preferiram levar consigo para a eternidade segredos demasiado dolorosos, intensos ou incompreensíveis, em vez de os revelar aos que vieram mais tarde. Penso que alguém do passado da Mamy sufocou em segredos partilhados, os quais, se revelados, teriam o poder de modificar os seus últimos anos, mas perene ela ficara... Por vezes até sinto saudade das suas tiradas histéricas, mas na lembrança da sua ira ouço o silêncio que a sociedade lhe dedicou durante a sua vida, o seu grito primordial "estou aqui, e tenho algo a dizer!" ... O eco da sua ausência, as imagens estáticas da sua arte religiosa, retratos abstractos, delineados em negro, os seus azulejos repletos de história e poesia, os seus poemas religiosos em que, aos quinze anos de idade, eu li erotismo, na minha ignorância de amor. O que é que eu sabia acerca de amor? Eu sabia de guerra e conflitos intercontinentais, acções negando palavras e sorrisos repletos de lágrimas. Mas a vida é algo mais do que os nossos olhos vêem e as convenções permitem... "

Rosário Teixeira