Primeiro houve um grito. Creio que foi assim que tudo começou.
O grito da criança a rasgar o corpo da mãe, a desenhar rachas nas paredes de um
mundo enclausurado em si mesmo, a querer cindir o próprio corpo da terra, em
busca da luz…
“Eu tinha de encontrar o cântico da luz….”
E esse grito cresceu, ouviu-se nas várzeas e nos cerros, misturou-se
com a espuma do Mar e, transmudado em água, escorreu sangue nas páginas de
bronze da nossa História.
O grito ouviu-se durante muito tempo e houve quem o
quisesse silenciar.
Para alguns, o grito ficou como o ruminar das águas no
interior de um búzio - pura sugestão, reverberação de um gesto de ar na espiral
da concha.
Para outros, como eu, o grito ainda se pode escutar, como
um antigo encantamento, uma força indomada de trovão ou de onda altiva, um
cântico de luz e de sombras.
Escute-o:
Cântico das Sombras from Susana Sousa on Vimeo.
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Cântico das Sombras from Susana Sousa on Vimeo.