Primeiros passos...

A minha avó Dilita ofereceu-se para me acompanhar à casa de Diamantina. Situada junto à Capela da Orada, a casa tinha uma entrada digna de um bairro de lata: tijolos em bruto formavam a escada de acesso ao edifício. A escada original tinha sido destruída e não fora reposta. Era o primeiro traço que me era dado vislumbrar da guerra de Diamantina com a Igreja.

Uma vez lá dentro, parecia que tínhamos entrado num universo de conto de fadas...




De uma sala para a outra, era preciso avançar devagar, abrir uma porta e fechá-la atrás de nós, antes de prosseguir, para que os cães e os gatos não se escapassem e não se misturassem – havia várias hierarquias, uns não podiam socializar com outros, com o risco de grandes guerras.

Uma casa habitada pelos animais... Diamantina tinha por companhia esse seres protectores, que não magoam quem os acolhe. O odor, esse, magoava-nos, mas não a ela, pois já não se dava conta de muitas das coisas que não pertenciam ao reino do espírito. Tivemos que evadir-nos. Éramos estranhos naquela casa e o próprio ar nos rejeitava. Diamantina condenara-se à solidão.

De volta às primeiras divisões, Diamantina mostrou com orgulho uma pequena sala que era a sua biblioteca e escritório. Dias mais tarde, aquela divisão seria destruída pelo fogo. Os livros não são bronzes, e seriam os primeiros a ceder às chamas.

Decidi voltar, e quando voltasse traria um instrumento que me permitisse resgatar a memória de Diamantina, iludir o tempo e, de certa forma, eternizar aquela mulher.

Sem comentários: