Procurar sinais na areia




“Cada areia é um assunto.”

Diamantina Negrão destacou-se, quer nas artes, quer na vivência social e religiosa da sua terra – Albufeira. Causou polémicas e suscitou sentimentos contraditórios pelos excessos que a grandeza da sua alma não conseguia conter. Poetisa, ensaísta, escultora, pintora, professora, freira excomungada e divorciada – Diamantina deixou-nos um rasto simultaneamente luminoso e sombrio, restos do "deserto" da sua "estrela", uma poalha extensa a ambicionar a dureza fria e eterna do Cristal. Sem encontrar o equilíbrio entre as suas zonas de luz, sagradas, e a sua noite cerrada e profana, Diamantina vivia a contradição própria do humano no seu extremo (por vezes pernicioso).

No documentário “Diamantina Negrão – Cântico das Sombras”, partirei numa busca para a qual Diamantina me encaminhou por mão própria quando, por altura da apresentação do seu derradeiro livro, baralhou os papéis do discurso e perdeu o fio de um percurso onde vivência e obra se confundiam, animadas ambas por uma mística que culminava em Albufeira, frente ao mar.

“O Mar da minha terra tem alma” – diz a mulher que enfrentou o final da vida com uma caneta na mão, a tentar escrever a sua biografia: “Areias do Meu Deserto”. Obra que não terminou e que temia publicar. “Artide Quatro” ficaria como o último legado de Diamantina Negrão.

“A fronteira era o fim / Mas no fim não existe o nada. / No fim há sempre / Uma migalha.”

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